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A Journey through the Desert

( First posted in Portuguese,  in March 2016) For Julia , The Princess with the Green Slippers 'Julia! Bernardo!&...

Sunday 31 October 2010

Tocando o Cravo da Vida

          Há uma história que precisa de ser contada. Tudo se passou há algum tempo, não há tanto que possa ter caído no esquecimento, mas há demasiado tempo para que alguém se lembre do momento exacto em que aconteceu .
          Fé estava sentada diante do seu cravo, envergando um lindo vestido renascentista amarelo. O seu cabelo, amarrado no alto da cabeça, parecia uma daquelas perucas brancas e fofas que se usavam antigamente, embora, uma observação mais atenta revelasse que, na realidade, era um fofo pedaço de nuvem branca. Na verdade, os seus sapatos eram também feitos dessa substância fofa ... Os seus dedos deslizavam pelas teclas sem desafinarem. E podem crer que isso não devia ser tarefa fácil pois, enquanto tocava, a beleza do som produzido pelas cordas musicais elevavam Fé e o seu cravo no ar, rodopiando.
           Contudo, nada parecia distraí-la, nem mesmo o facto de estarem a afastar-se cada vez mais do solo, movendo-se em espiral, em direcção ao céu. Mas, mal Fé aí chegou, dois seres de asas brilhantes entrelaçaram os braços nos dela e ajudaram-na a descer, flutuando pela escadaria em espiral, sem degraus.
          Os seus companheiros alados pousaram-na junto a um banco à beira de um penhasco e, antes mesmo de ela ter tido tempo de pestanejar, desapareceram, deixando para trás um perfume a laranja e canela.
          E o que fez Fé a seguir, perguntam vocês? Bem, não havia muito a fazer a não ser sentar-se no banco, pegar nas agulhas brilhantes que estavam a seu lado e começar a tricotar uma enorme manta de relva e flores. Tic – Tic – Tic ...
          Não sei bem quanto tempo se passou mas, ao terminar de tricotar a última malha, a rapariga deitou-se em cima do banco e tapou-se com a colorida manta verde. Tinha um ar tão tranquilo! E devia estar mesmo muito cansada pois, enquanto dormia, chegou o Outono e depois o Inverno ...
          O tempo parecia passar por ela em bicos de pé, para não a acordar. Mas, como toda a gente sabe, não se pode dormir para sempre, por isso, um dia, um Bambi aproximou-se e destapou-a. Ao lançar ao chão a manta verde com um arco-íris de flores, o mundo soube que tinha chegado a Primavera.
          Levantando-se rapidamente com um sorriso nos lábios, Fé ajoelhou-se junto do pequeno veado e começou a fazer-lhe festas. Ao tocar nas manchas brancas que cobriam o dorso do animal, estas caíram-lhe para as mãos, transformando-se, diante dos seus olhos, em moedas de ouro. Só posso estar a sonhar, pensou ela. Esfregou os olhos, segurando firmemente as moedas no punho cerrado. Não, estava bem acordada! Sem tempo para processar tudo o que estava a acontecer e,antesmesmo de conseguir pensar fosse no que fosse, as moedas transformaram-se em duas lindas pombas brancas de asas recortadas, feitas da mesma substância branca das nuvens. E como elas dançavam magnifica e elegantemente com o seu amigo vento! Que espectáculo maravilhoso! Fé esboçou o sorriso que as pessoas fazem quando se sentem despreocupadas e alegres, terminando a sua entusiástica demonstração de gratidão com uma pirueta no ar e batendo palmas de contentamento.
          No meio de toda esta excitação Fé sentiu uma poderosa força magnética a puxá-la para baixo e caiu sentada na cadeira que eu ocupava. Ficámos as duas tão surpreendidas que apenas conseguimos dizer “Oh!”. De seguida, por um brevíssimo segundo, tocou-me na testa – aqui, onde os olhos se encontram – passando-me as imagens da sua história. Depois, com uma piscadela de olho, desapareceu numa chuva de brilhantes ...
          Desapareceu, deixando-me sentada à secretária com um velho caderno de apontamentos, uma esferográfica BIC numa mão e contigo, minha querida Jessica, no pensamento.
          Isto apenas pode significar que esta história é para ti...
          ... por isso, aqui está ela, envolta num grande e apertado Xi-♥.

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